Serra da Estrela

Figuras Torroselenses. Maria Joana Moreira Mendes Leal... Foi condecorada por PIO XI

19-01-2012 23:14

 

MARIA JOANA MOREIRA MENDES LEAL
(1896-1976)

 
 

Filha de José Joaquim Mendes Leal e de Maria da Conceição Mendes Moreira, nasce em 12 de Outubro de 1896. O seu pai dispensa-lhe nos primeiros anos de vida uma educação típica de “filha-família”, ensinando-lhe as primeiras letras. O facto de entretanto ser indicado para presidente da Câmara dos Deputados, nos anos de 1909 e 1910, faz com que Maria Joana dê entrada no Instituto Infante D. Afonso, mais conhecido por Instituto de Odivelas. O eclodir do 5 de Outubro obriga a família a refugiar-se em Torroselo, de onde é originária, nas faldas da Serra da Estrela. Entre esta data e 1922 poucas notícias há de Maria Joana, a não ser a troca de correspondência com seu pai, com a vida dispersa entre  Torroselo e a casa em Lisboa.

Em 1922 Maria Joana publica o seu primeiro livro, com imprimatur dado pelo Arcebispo de Mitilene, indicando que à época já milita nas fileiras católicas. Das suas ligações ao Noelismo e ao Padre Júlio Marinho S.J., seu confessor, radica a sua ligação à Associação Católica Internacional da Obra de Protecção às Raparigas (OPR), depois de se ter afirmado como colunista exímia no jornal católico As Novidades. As manifestações públicas de apoio à OPR ocorridas na Sociedade de Geografia em 1935, a condecoração Pro Ecclesia et Pontífice atribuída por Pio XI, dão-lhe a notoriedade necessária para o reconhecimento por parte do Estado Novo, conferindo-lhe cargos políticos de destaque, quer como vogal da direcção da Obra das Mães pela Educação Nacional quer como directora doBoletim da Mocidade Portuguesa Feminina, a partir de 1949 Menina e Moça. As viagens que realiza por todo o país, quer ao serviço da OPR quer da MPF, dão-lhe grande visibilidade pública. A partir de 1939 é membro da Junta Nacional de Educação e, a partir de 1942, é procuradora à Câmara Corporativa em três legislaturas representando as Associações Particulares de Assistência. A partir de 1952 é eleita para a Junta Internacional da Protecção da Moralidade Pública e, passados dois anos, publica O Santo Padre Cruz

Em 1958 envolve-se na contenda política apelando ao voto em Américo Tomás. Em 1967 abandona o cargo de Presidente Nacional da OPR, passando a presidir ao seu Conselho Consultivo. No decorrer da sua actividade à frente do jornal A Protecção, orgão da OPR, é a principal redactora dos artigos ideológicos dados à estampa, veiculando de forma sistemática os valores do apego à ruralidade e da moral cristã, enquanto modelos únicos de atitudes e comportamentos, conducentes ao retorno das mulheres ao lar e à maternidade, na trilogia de “esposas, mães e educadoras”, combatendo o que se possa relacionar com o prazer, sejam momentos de ócio ou de festa, tempo de praias ou de lazer. A estratégia que utiliza de se encobrir no anonimato, denuncia o cuidado que nos mesmos é posto, numa especial didáctica de exemplo, longe da abstracção de um discurso teórico menos assimilável. Os por vezes longos artigos que publica nas páginas do A Protecção, estendendo-se por dois ou três números do jornal, revelam a prolixidade de Maria Joana na defesa do que a autora considera “virtudes” das mulheres, como sejam o labor dos campos, a entreajuda familiar, o cuidar do marido e dos filhos, da casa e da boa ordem familiar, tal como é percepcionado quer pelo regime quer pela Igreja católica, numa similitude de propósitos e desejos. Às mulheres, numa inferioridade ditada pelas encíclicas papais, como se encontra expresso na Casti conubii, “se o homem é a cabeça a mulher é o coração”, atribuindo aos homens uma pretensa legitimidade de superioridade intelectual ditada pela “natureza”, tem por consequência que os diferentes aspectos da vida quotidiana, da educação ao trabalho, do casamento à fidelidade conjugal, sejam sempre percepcionados de molde a que às mulheres seja remetida a culpa primordial, inserindo-se no modelo protagonizado pela Santa Rita de Cassia, encarando o casamento como calvário terreno a que não se pode eximir.

Publica milhares de artigos e profere centenas de conferências ao longo da sua vida, tornando-se uma figura proeminente da vida católica e política do país. A sua morte, após doença prolongada, ocorre em Janeiro de 1976.

Fonte: https://www.aph.pt/uf/uf_0511.html

Por: A. Madeira

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