Serra da Estrela

A Serra da Estrela e o Herminismo em Pleno Desenvolvimento

08-03-2012 21:32

 

continuação...

O Documentário da Serra

(...) O Mir’Alva não é bem uma sedução panorâmica para os momentos das sombras crepusculares; encanta quando a manhã aflora o sorriso cheio de luminosidade, poisa suavemente nas cristas dos montes, descobre o seios dos vales e aquece o cão e o rebanho que volteiam nas encostas, ou enleva se o luar sonha sobre o Alva o fado-canção de Coimbra. É lugar para abrir excursão à Serra com chave de oiro, ou inversamente, finalizá-la com chave de prata. Quando reentrávamos o Quintal da Eira, o Rodrigues deu largas à glorificação do progresso de Torroselo. - Aldeia com acesso por estradas, serviços dos CTT, electricidade a jorros, camionetas diárias ascendentes e descendentes aos pares, filarmónica, especialidades farmacêuticas do mais fino quilate, rádios em série dando as novidades de todo o Mundo, a grande Imprensa à meia-tarde, cinema bastas vezes, rancho folclórico, espectáculos infantis, aviões que rasgam os ares assobiando aos curiosos estupefactos, um disco voador que evolui estranhamente na face dos astros...Na iminência de sermos levados em charola até aos planetas mais próximos e na perspectiva de se chegar a conclusão catastroficamente desfavorável ao “progresso supercivilizado”, aconselhamos o Rodrigues a que recuasse meio século e em face de incontestados elementos históricos ou perpetuados pelos usos e costumes, fizesse mais judicioso conceito de épocas transcorridas.

Assim, Torroselo pouco antes e depois da vitória liberal, usufruía na ordem civil e administrativa disciplina que regrava todas as actividades.

(...) Na esfera de acção administrativa, o magistrado, verdadeiro procurador, zelava com nobreza os pergaminhos da missão em que fora investido e não prevaricava, sob pena de ser substituído. Havia os artificies de que o aglomerado necessitava. O pão de trigo só por gulodice ou no dia da matança do porco, aparecia na mesa. Em matéria de tecidos, o que não ordenava o tear, apresentava-o pelas ruas o tendeiro. Poucos lares importavam café e açúcar. A gravata era regalia dos mais categorizados. Em suma, a povoação quase se bastava a si própria e em compensação exportavam-se muitos alqueires de azeite e milho, e sobejos almudes de vinho. Pelo S. Miguel, feitas as contas, a balança comercial torroselense creditava-se em milhares de escudos na moeda valorizada de então.

A estas receitas juntavam-se ainda as pequenas e grandes maquias que os mealheiros do Brasil e das Áfricas enviavam.

 Por: A. Madeira

Fonte: A Serra da Estrela e o Herminismo em Pleno Desenvolvimento, de Francisco Mendes Póvoas, Torroselo, Janeiro 1957

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