Serra da Estrela

A Liga Herminista, mais tarde Grémio, foi uma referência na região da Serra da Estrela, como podemos ler neste livro publicado em 1957.

04-03-2012 21:12

 

Se há instituições na nossa terra que merecem ser divulgadas, a Liga Herminista  é sem dúvida uma delas.
Através dos livros que nos deixou, Francisco Mendes Póvoas retrata para os seus leitores a obra desta colectividade que, no longínquo ano de 1924 foi fundada   por  torroselenses que, muito amaram e contribuíram para o progresso e desenvolvimento desta linda aldeia. A Liga, mais tarde Grémio, foi uma referência na região da Serra da Estrela, como podemos ler neste livro publicado em 1957.

O Documentário da Serra

Meia tarde chegada, o Rodrigues não ocultou a ansiedade de gozar o panorama do Mir’Alva; desde a primeira vez que ali estivera, não mais se lhe apagara a impressão daquela aliciante mansão de turismo. Todavia, a sequência do itinerário indicava a visita pela esquerda.Em frente do edifício da Liga Herminista Estrela d’Alva, num humorismo que bastantes vezes lhe saltava à face, levou a mão ao chapéu e exclamou: - ADomus Regionalis! Alvará aprovado, amor do torrão natal a par do desenvolvimento do Herminismo! Conjugação de esforços no bairro, hino à Serra! Obra que, como diz Luís Ferreira, jornalista alfacinha, n’ “A Comarca de Arganil”, “correu o país de norte a sul em inteligente propaganda a ocupar largo espaço na imprensa” e nela encontramos: pela acção bairrista desde 1924, a reorganização da antiga Filarmónica Torroselense, com abertura de subscrições para aquisição de novo fardamento e instrumental; distribuição de pão de trigo e amêndoas a crianças pobres; inauguração de uma pequena leitura na sede, conferências educativas, criação de uma aula nocturna para adultos, que proporcionou extinção de analfabetos nos mancebos que se apresentavam às inspecções militares e pela qual obteve no “ Diário do Governo” um louvor oficial; distribuição de esmolas e retalhos pelo Natal; confecção do estandarte com motivos regionais; concessão de subsídios; construção do Campo de Desportos na Cruz Alta e organização com equipa do primeiro desafio de futebol em Torroselo; estudo das necessidades locais; concessão de prémios escolares a alunos da Escola Primária Oficial; primeiro estudo da planta da Cruz Alta, colocação de lápides em azulejo à estrada nacional e representação sobre a ponte do rio Cobral; comparticipação nas obras do lavadoiro público e representação sobre o saneamento das fontes públicas; representação sobre a necessidade de uma nova fonte no Bairro da Cruz Alta; comparticipação nas despesas de recepção às autoridades pela inauguração da estação telefono-postal e aposição de placas de nomenclatura de ruas. Proposta de iniciativa de electrificação de Torroselo.

Pela acção regional: - Publicação da “Estrela d’Alva”, representação ao Parlamento sobre os Rochedos Fisionómicos da Serra; distribuição de livros e preparos escolares na Escola Primária Oficial de Várzea de Meruge e na de Meruge; propaganda desportiva na região; concessão de prémios escolares para as escolas de Folhadosa, Sandomil e Seia, pelo que foi atribuído um louvor da Inspecção Escolar da Guarda; representação sobre as estradas para Sandomil e Lagares da Beira; colaboração no lançamento da primeira pedra aos mortos da Grande Guerra, em Seia, e no sarau a favor das vítimas do terramoto do Faial; propaganda a favor de uma fonte em Várzea de Cima; lançamento de subscrições e aplicação de donativos para compra de material cirúrgico para o Hospital do Concelho de Seia; organização da Grande Reunião das Penhas Douradas em 25 de Agosto de 1929, para concretização das aspirações regionais...

- Paremos aí, benquisto orador; chegamos ao acto de maior projecção herminista até à data levado a efeito e importa verificar directamente o êxito dele. Sigamos então nosso caminho...

A Cruz Alta contava naquela altura alguns melhoramentos que o Rodrigues não conhecia: a preconizada fonte de abastecimento público, duas avenidas auspiciosamente demarcadas e a coroa da glória da freguesia, o Cruzeiro erguido em 22 de Setembro de 1940.

A meio da acrópole torroselense, ao fim de uma vereda escorrida sobre pedreiras dispersas e veios de seixo entremeados de mato, trabalhava um homem idoso servindo-se do enxadão.

(...) – Ó tio João! – lhe dissemos – Olhe que está a dar em pedra dura!...

Não houve hesitação na resposta: - Se pedra dura é, pão mole há-de dar...

Excepcionalmente o Rodrigues foi para o estrangeirismo:

 - Tableau! Adão no Paraíso não diria melhor... E seguimos para o Cruzeiro.

A tarde caía com serenidade. Uma claridade reluzente envolvia o capitel e fez sobressair a data da carta do prior de Santa Cruz: 1196.

 - Populus Torroselensis, velhinho de sete séculos e meio!

 - Exclamou o nosso hóspede enleando a coluna cilíndrica com o braço esquerdo e distendendo a vista para o povoado:

- Ergueste este Cruzeiro Propia Pecunia Posuite (PPP).

Eu te saúdo, pelo espírito de remota independência que assinala este Padrão! E dirigiu-se a passos largos para o lado do Mir’Alva.

continua...

Por: A. Madeira

Fonte: A Serra da Estrela e o Herminismo em Pleno Desenvolvimento, de Francisco Mendes Póvoas, Torroselo, Janeiro de 1957

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